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Investigação na Taurus gera conflito de acionistas

 

Valor Econômico - 07/05/2014 às 05h00

Por Natalia Viri e Ana Paula Ragazzi | De São Paulo e do Rio

Investigações a respeito da venda de uma fábrica realizada em 2012 estão provocando uma guerra dentro da Forjas Taurus. Minoritários acusam o presidente do conselho e maior acionista da companhia, Luis Estima, de tentar impedir os trabalhos do comitê independente que avalia o papel dos administradores no negócio, que, segundo estudos internos obtidos pelo Valor, provocou prejuízos de R$ 128 milhões.

A operação, que é chamada por investidores de a "Pasadena da Taurus", em alusão à compra de uma refinaria que provocou perdas substanciais a Petrobras, diz respeito à venda da Taurus Máquinas-Ferramenta, realizada em junho de 2012, por R$ 115 milhões. O comprador foi o grupo metalúrgico SüdMetal, do empresário Renato Conill, que atuou como lobista da fabricante de armas durante o Estatuto do Desarmamento e foi sócio do filho de Estima em uma rede de concessionárias.

Neste ano, a companhia reconheceu que pode não receber nenhum centavo pelo ativo. Um comitê especial, formado por três membros independentes, foi instaurado para investigar o negócio e vai dar as diretrizes para algumas operações "inadequadas" apontadas pelo conselho.

A principal acusação a ser averiguada pelo comitê parte do conselheiro Manuel Caldas, representante de minoritários. Em manifestação feita na assembleia, obtida com exclusividade pelo Valor, ele aponta que um acionista relevante da Taurus pode ter participação na Wotan Máquinas, empresa que foi arrendada em 2004 e deu origem à Taurus Máquinas-Ferramenta.

Chamou atenção do conselheiro uma operação de mútuo (empréstimo a subsidiárias) firmada entre a Taurus Máquinas e Wotan Máquinas, que é descrita em notas explicativas como "entre partes relacionadas". Apesar disso, não é possível verificar quem é o dono da Wotan porque seus controladores estão em paraísos fiscais.

No documento, Caldas afirma que o mútuo originou-se em novembro de 2004, que chegou a somar R$ 35,2 milhões, foi firmado em novembro de 2004, dois meses depois a Taurus ter arrendado ativos da Wotan. E sumiu em junho de 2012, quando foi fechada a venda para o SüdMetal. Procurado pelo Valor, Caldas não deu entrevista.

Antes da assembleia geral ordinária, realizada na semana passada, o comitê independente já propôs que até que concluísse seus trabalhos, os acionistas não deliberassem sobre as contas da administração - jargão para a responsabilidade dos administradores - de 2012 e 2013. A decisão foi acatada, ainda que as demonstrações financeiras do período tenham sido aprovada pela maioria dos presentes. A reunião conturbada durou mais de seis horas e contou com nada menos que onze manifestações de voto e protestos por parte de acionistas e conselheiros.

O estopim para o barril de pólvora já tinha sido acesso dias antes. Em assembleia extraordinária, Estima conseguiu aprovar com maioria apertada de 52% dos votos uma capitalização de R$ 200 milhões, sob alegação de reduzir o endividamento da companhia. A maior parte do conselho e a própria diretoria foram contra a operação e afirmam que não há estudos que comprovem a necessidade de aportes de recursos.

A Previ, que tem 24% do capital total da companhia, é uma das principais opositoras da proposta. Em entrevista ao Valor, o diretor de participações Marco Geovanne afirmou que irá recorrer a "todas as instâncias possíveis" contra a capitalização. "O aumento de capital é claramente uma manobra para tomar o controle. É o pior pesadelo de um investidor, em uma empresa que virou as costas para todos os princípios firmados com a entrada no Nível 2 de governança", ressaltou.

Em manifestação de voto, o investidor Joaquim Baião, que detém 30% do capital votante, também criticou veementemente a capitalização. "Como deliberar sobre um tema se tanto o conselho quanto a diretoria entendem que faltam informações para tomar uma decisão informada?", ressaltou, acrescentando que protesta "em relação à forma como tais acionistas conduziram a apresentação dessa proposta para deliberação dos demais acionistas".

A capitalização é relevante para a Taurus, que tem pouco mais de R$ 250 milhões de valor de mercado. Segundo documentos da própria empresa, investidores que exercerem seu direito subscrição podem sofrer uma diluição de até 50% em suas fatias atuais. Se no aumento de capital os minoritários não acompanharem e Estima ficar com as sobras, poderá retomar a fatia de controle da companhia.

Minoritários especulam ainda que a Taurus pode estar preparando uma associação com a Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC), que é acionista da companhia e votou junto com Estima para levar a capitalização à frente. E estudam levar o assunto ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que já proibiu a siderúrgica CSN de usar os direitos políticos de ações que comprou na bolsa da concorrente Usiminas.

A relação entre minoritários e o presidente do conselho sempre foi um conflituosa. Estima chegou a ter uma participação de 90% do capital votante da Taurus, mas uma reestruturação acionária ocorrida em 2011 derrubou essa participação para menos da metade, em 44%. Naquele ano, a Taurus incorporou a holding controladora Polimetal e, com ela, uma dívida de mais de R$ 165 milhões. Como contrapartida, Estima diluiu seu poder de voto entre os demais acionistas e a aceitou que a empresa aderisse ao Nível 2 da BM&FBovespa, segmento com padrões mais elevados de governança.

 

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