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notícias Enquanto os IPOs não vêm


Enquanto os IPOs não vêm

 

Valor Econômico

14 de Fevereiro de 2013

 

Por Pedro Rudge

O último ano foi emblemático para o mercado de ações brasileiro. 2012 deixou claro para nós, investidores, as consequências do número reduzido de empresas que temos na bolsa.

A BM&FBovespa conta com aproximadamente 455 companhias listadas, o que já é um número pequeno dado o tamanho da nossa economia. Ainda assim, acredito que tenhamos, na verdade, no máximo 200 empresas "investíveis", ou seja, com uma liquidez razoável e com padrões mínimos de transparência e governança corporativa. Além desta limitação quantitativa, temos ainda uma dissociação dos setores listados em bolsa quando comparados à composição do nosso PIB. Diversos segmentos importantes da economia brasileira não estão ainda representados. Este ponto ganha mais relevância quando levamos em consideração a composição do Índice Ibovespa.

Em 2012, o fato de termos poucas empresas para investir se tornou ainda mais problemático com a adoção de uma postura mais intervencionista por parte do governo em setores regulados e com a correção nas expectativas de resultados das companhias do setor imobiliário. Os investidores se viram sem alternativas além das poucas empresas que estavam mais protegidas desses riscos e apresentavam potencial de crescimento. Um exemplo foram aquelas com uma maior exposição ao varejo e consumo internos.

O resultado foi uma forte valorização nos preços destes ativos. Alguns deles de fato mereceram tal performance, porém muitos foram beneficiados pelo fator escassez, fazendo com que grande parte do seu desempenho fosse apenas justificável por expectativas de crescimento bastante otimistas ou com uma rentabilidade desafiadora.

O que fazer para que essa situação não venha a se tornar uma bolha justo no momento em que, dado o patamar atual da taxa de juros, se espera uma migração importante dos investimentos de renda fixa para ações? A resposta óbvia é aumentar a oferta de empresas. Para isso existem dois caminhos: novas companhias se listarem (IPOs) ou um esforço para trazer as empresas já listadas para o grupo das investíveis.

Em relação aos IPOs, já temos empresas se preparando para vir a mercado, aguardando apenas uma nova janela (apetite dos investidores). Nesse front, uma iniciativa bastante positiva é o esforço para desenvolver o mercado de acesso Bovespa Mais, dando oportunidade para grupos de menor porte ingressarem na bolsa. Ter acesso a capital de longo prazo com custo razoável fará com que diversos planos de negócios possam sair do papel. Isso terá um efeito transformacional na economia e no mercado de capitais, fazendo com que o ambiente competitivo das empresas mude completamente.

Ao mesmo tempo, seria muito benéfico se conseguíssemos aumentar o universo de companhias investíveis por meio daquelas já listadas. Para isso, investidores mais ativistas ou de referência deveriam exercer um papel de indutores desse movimento.

É preciso convencer os donos das empresas a adotarem padrões mais altos de governança, tendo maior transparência, tratando os investidores com mais respeito e se aproximando deles. Tais medidas deveriam se refletir em maior liquidez de seus papéis e possivelmente uma melhor avaliação de suas ações. Notem que utilizei acima o verbo convencer. Ainda vivemos em um ambiente no qual a maioria esmagadora das companhias listadas conta com a figura de um controlador definido que, possuindo a maioria dos votos, faz com que sua vontade sempre prevaleça.

É notório que esse processo de convencimento vem se tornando um pouco mais fácil e rápido nos últimos anos. É o resultado de casos reais de sucesso, nos quais empresas que migraram para o Novo Mercado, adotaram o tag along para ações preferenciais ou ao menos investiram em suas áreas de RI tiveram uma reprecificação de suas ações, fazendo com que passassem a ser negociadas em um patamar mais elevado. Este processo cria um ciclo virtuoso. Mais investidores se interessam em conhecer a história de uma companhia, analistas de "sell side" cobrem a empresa, difundindo mais informações. O resultando é um efeito positivo no preço e na liquidez. Resumindo, mais transparência, respeito e proximidade com os investidores levam a um menor risco atribuído ao negócio, tornando possível pagar um preço maior pela empresa.

Tais medidas deveriam estar na agenda de todas as companhias o mais depressa possível. Cada vez mais será uma questão de sobrevivência. Caso as empresas antigas não abracem a ideia de serem verdadeiramente listadas e negociadas, muito em breve sofrerão a concorrência das mais jovens e modernas, que terão acesso a capital com um custo mais competitivo. Elas conseguirão atrair os melhores talentos por meio de remuneração em ações, fazendo com que se crie uma vantagem competitiva relevante e duradoura. Já temos visto algumas companhias que foram criadas nos últimos cinco anos, acessaram o mercado de capitais de uma maneira adequada e hoje são líderes em seus segmentos.

Por isso, além de ser uma solução para o problema de nosso reduzido número de empresas listadas, tal movimento pode se mostrar também uma boa oportunidade de investimento.

Identificar estes ativos adormecidos, nos quais o negócio tenha potencial e exista uma predisposição dos controladores de reavaliarem seu status quo enquanto empresa aberta não é um trabalho simples. Exige paciência e algum grau de entendimento de psicologia, mas, quando dá certo, o ganho costuma recompensar toda a espera e o tempo dedicado.

Enquanto a oferta não aumentar, ou melhor, novas empresas não vierem para a bolsa ou as antigas não se tornem realmente investíveis, os aplicadores devem ser seletivos e tomar suas decisões de investimento com bastante atenção, para que não acabem comprando (boas) empresas pagando um prêmio injustificado por elas.

Pedro Rudge é sócio fundador da Leblon Equities. E-mail: This e-mail address is being protected from spambots. You need JavaScript enabled to view it.

Este artigo reflete as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

Leia mais em: http://www.valor.com.br/financas/3004406/enquanto-os-ipos-nao-vem#ixzz2Kru5gBIc

 

 

 

 

 

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